A Política do Esperancídio e a Redenção
da Utopia (Um Guia para o Eleitor em 7 Fases)
Xiko Mendes
I – Sonhar ainda é possível
Dizem alguns que sou muito
sonhador.
É verdade.
Sem sonho não se fecunda a impossibilidade.
Sonhar o que se
julga impossível é reaproximar
De nós a face
intangível de Deus sob o manto da
Esperança
sufocada na garganta dos pessimistas,
Dos invejosos e
dos que, em vez de lutar,
Cruzam os
braços apostando na inércia do Mundo
Como resposta à
própria acomodação,
Indulgência e
indolência,
Que são os
antídotos de quem não se comove
Com a miséria
da vida e se torna prisioneiro de
Uma existência
medíocre e previsível.
Dizem também
que uma pessoa que
Acredita nas
próprias palavras é muito perigosa.
Concordo
plenamente.
Hitler
acreditou tanto nas palavras dele
Que quase
destruiu o Mundo.
Por outro lado,
Cristo e Mahatma Gandhi
Também
acreditaram tanto no que eles
Disseram à
Humanidade que
Semeou no Mundo
um extenso vocabulário de utopias.
O Mundo é
assim: Uma “Lexicosfera” onde
Cada palavra
incorpora o Universo à dimensão do Nada
Ou à dimensão
do Infinito.
Sonhar é
espantar-se com as diversas possibilidades
De se fazer
acontecer e surpreender-se transformando
O mistério da
(re)descoberta de si mesmo e do Mundo
Como alavancas
do sucesso nas fronteiras movediças
Dessa
encruzilhada centrífuga que é a Existência Humana
Entre a cômoda
decisão de ficar e contentar-se com o já feito
Ou a incrível
vontade de percorrer as linhas do desconhecido
Em busca de
algo que ninguém consegue para mim:
O direito
supremo e inalienável de trilhar, oniricamente,
Todas as curvas
do Universo, visitando todas as Galáxias,
Hospedando-me
em todas as Constelações,
Vivendo
aventuras dantescas em buracos negros,
E fixando todos
os meus sonhos como poeira cósmica
Levada pelo
vento e que permaneça em órbita
Para que os pessimistas se envergonhem e
digam:
“Sonhar ainda é possível!”.
E mais do que possível,
Sonhar é estar
sempre no Labirinto
Buscando
caminhos novos e atalhos
Para que o
Mundo se renove, continuamente,
E o Homem
continue sua marcha inelutável
Em busca de si
mesmo
Como
Metamorfose Caótica em Universo Oscilante
Aprendendo
Lições de Cosmologia Onírica.
II – Véspera de eleição
na cidade de Nova Esperança
Política
em Nova Esperança é balcão de negócios.
E nessa
cidade que tanto amo discute-se
Quem deve
ser o próximo prefeito.
Partidos
e caciques se reúnem na calada da noite;
Tramam
acordos nos bastidores,
Conspiram
ao pé do fogão
E riem do
povo nos fundos de quintal.
Tudo já
está decidido: já sabem
Quem
serão os candidatos a vereador,
E quais serão
indicados para prefeito e vice,
Mas
fingem para o povo, indiferente e omisso,
Que somos
uma Democracia.
Somos,
sim, uma democracia;
Porém,
somos a democracia plutocrática:
Aquela em
que o status e o poder são determinados
Pelo uso
e abuso do poder econômico na eleição;
Somos a
“democracia” dos compradores de voto.
Somos a
“democracia” dos enganadores do Povo.
Somos a
“democracia” dos eleitores coniventes.
Estamos
em véspera de escolha dos candidatos.
Cada um
mente mais que o outro e promete mais que o outro.
Nesse “Vestibular
da Hipocrisia” quem perde é sempre o eleitor.
É o
hospital ou o posto de saúde que não funciona;
É a
estrada cheia de buracos no meio do caminho;
É a
escola sem merenda, sem reforma e sem projeto pedagógico;
É a obra
inacabada, mas com licitação fraudada por
Um bando
de ladrões dos cofres públicos;
É o
vereador que não vota a favor do Povo, mas
Sempre a
favor do governo municipal que lhe dá propina;
Enfim,
entre uma eleição e outra tudo se mantém como antes.
E o povo
aplaudindo, sonhando, renovando esperanças...
E
frustrando-se constantemente.
Mas
enquanto esse povo não acordar e
Perceber
que ele é sempre o bobo da corte,
Essa
cidade que tanto amo
Continuará
anestesiada pela demagogia dos pilantras da Política.
O povo
precisa conscientizar-se de que ele é o Sujeito da História,
É o ator
principal no palco da Política.
Democracia
sem emprego,
Democracia
sem ética e liberdade de expressão,
Democracia
sem participação popular,
Democracia
sem justiça social,
Democracia
sem educação e saúde dignas
Pode ser
qualquer coisa,
Menos que
seja o governo do Povo.
III – Reino da
Egolatria
Poder
e Vaidade andam juntos.
Tem
gente que se envaidece
Tanto
pelo Poder que
Se
desencontra consigo mesmo(a).
Tem
gente que se julga
Tão
poderoso(a) que
Tropeça
nos próprios
Passos
errados que
Dá
na Vida por excesso de autoconfiança
Em
seu mandonismo absoluto.
Mas
nada melhor que a Vida,
O
pesadelo da experiência e
A
imagem estilhaçada no espelho para que
Essa
gente perceba que viver, antes de tudo,
É
ser simples, humilde e humano.
O
Poder passa.
A
Vaidade passa.
O
que fica são Amizades, a Saudade,
O
Amor correspondido, a Vida partilhada
Em
sonhos com quem sonha e quer
Um
Mundo onde Vaidade e Poder
São
espectros de um Mundo vazio
De
sentimentos, de poesia e de Deus.
IV – A
Arte de se enganar com Políticos
Se você quer se enganar com algum político,
Preste bem atenção: ainda que ele não te conheça,
Ele finge que é seu amigo há muito tempo;
Entra na sua casa e te dá um abraço traiçoeiro,
Mas como se fosse o seu melhor amigo.
Ele esbanja “humildade e abnegação”
Como se fosse o maior dos samaritanos;
Ele beija os seus filhos, a esposa ou o marido,
Como se fosse parte de sua família;
Ele invade o seu lar com a certeza de que
Você aceitará ser enganado.
Ele abre um falso sorriso largo no rosto
Para esconder e mascarar quanto é dissimulado;
Ele te mete a faca nas costas, mas com diplomacia,
Como se estivesse te convidando para
Um banquete com os deuses da Demagogia no Palco;
Ele se “com-promete”
em realizar seus sonhos;
Ele promete destruir todas as suas angústias;
Ele se propõe a ser a Panaceia do Mundo;
Mas o que ele quer mesmo de você é o voto;
Mais nada. Você não é nada para ele.
Você é apenas o voto que tem.
Você, eleitor, é apenas um papel higiênico,
Um objeto descartável cuja utilidade se esgota
Após o resultado das eleições com o fechamento das urnas.
Eleito, empossado e entronizado na “Tribuna da Vaidade”,
Onde os medíocres e mequetrefes se julgam
Os mais importantes dos seres humanos,
Aí tudo muda: aquele político “bom samaritano”,
Mostra de fato quem verdadeiramente ele é:
Vaidoso, mentiroso, tirânico, farsante,
E sempre, sempre muito mascarado.
Ele foge da verdade como o diabo foge da cruz;
Eis a cartilha da arte de se enganar com políticos!
Portanto, não se deixe enganar por várias vezes,
Pois as estratégias são sempre as mesmas
Em todas as eleições quando a busca por votos
Transformam os políticos em porta-vozes da Esperança.
Eu já cansei de me decepcionar com políticos.
Agora decidi cruzar os braços, “me fingir de morto”
Para depois, muito tempo depois,
Dar a minha resposta em silêncio,
Sem que eles percebam,
Pois não existe coisa pior para um político
Do que ele ser ignorado pelo eleitor quando
Ele está em busca do voto e você vira
O centro das atenções e não vota nele.
Essa, então, é a hora de você ser o protagonista;
É a hora de você dar o troco e devolver a ele
Tudo o que fez de ruim ao longo do mandato.
Essa é a vingança cívica quando a
Sua Consciência de Cidadania
No Estado Democrático de Direito
Vira a única arma capaz de combater os Calhordas
Que se chafurdam no mar de lama do poder
E se envaidecem achando que nós, o Povo,
Somos a sarjeta do esgoto que eles constroem.
Só o voto, e somente com o seu voto (branco, nulo...),
Poderemos transformar o Mundo
E colocar na Lixeira da História
Essa gente sórdida, hipócrita, arrogante e prepotente,
Que se acha dona de nossas vontades e roubam
Nossos sonhos e esperanças.
E voltam na eleição seguinte com o mesmo discurso
De que são os Salvadores da Pátria.
Mas a Pátria somos nós: a Consciência Crítica
Que muda a Vida, nos devolve o Sonho e a Esperança.
V – Carta a um Parceiro
(In)Confidente
Como andam as coisas nessa cidade?
Para mim, parece tudo meio esquisito,
Enigmático, indecifrável.
Estou muito desanimado com essa cidade.
Uma névoa de apreensão e perplexidade
Paira sobre o céu
E escondido na minha penumbra,
Não consigo enxergar gotas de otimismo
Nos horizontes da terra onde o Sol
Iluminou o marco zero da minha existência.
Uma luz distante e fugidia afunila o fim do túnel,
Espanta a primavera,
Dá um susto na minha paciência e
Torna-me um pessimista,
Pois acreditei muito que alguns sonhos pudessem realizar,
Mas tudo cada vez mais contribui para estreitar os caminhos,
Encher de pedras os atalhos e dificultar uma saída.
A gente sonha sozinho,
Mas não realiza sonhos sozinhos.
Acreditei que dessa vez pudesse
Realizar sonhos por uma cidade melhor porque
Achava contar com algumas parcerias importantes,
Mas essas parcerias não acontecem e
São sempre adiadas mês a mês, e
Ao contrário de minhas expectativas,
Apenas me seduzem com belas palavras protelatórias,
Sem nexo no contexto da vida.
COMPROMISSO pelo sonho e RESPEITO à realidade.
É isso que falta ao mundo de nossa existência.
O povo...? Esse, como sempre,
É prisioneiro da ilusão que desaparece
E retorna a cada eleição.
Já disse Mestre Guimarães Rosa que
"Viver é muito perigoso".
Mais que perigoso,
Viver é desiludir-se constantemente
Na ânsia de se acreditar que amanhã
Será melhor que hoje quando na verdade
A ilusão sempre mora na encruzilhada e
Arma ciladas contra quem sonha.
Essa é uma mensagem cifrada para dizer,
Criptograficamente,
O que estou sentindo nesse momento.
E esse é um recado de
Como andam as coisas nessa cidade?
Para mim, parece tudo meio esquisito,
Enigmático, indecifrável.
Estou muito desanimado com essa cidade.
Uma névoa de apreensão e perplexidade
Paira sobre o céu
E escondido na minha penumbra,
Não consigo enxergar gotas de otimismo
Nos horizontes da terra onde o Sol
Iluminou o marco zero da minha existência.
Uma luz distante e fugidia afunila o fim do túnel,
Espanta a primavera,
Dá um susto na minha paciência e
Torna-me um pessimista,
Pois acreditei muito que alguns sonhos pudessem realizar,
Mas tudo cada vez mais contribui para estreitar os caminhos,
Encher de pedras os atalhos e dificultar uma saída.
A gente sonha sozinho,
Mas não realiza sonhos sozinhos.
Acreditei que dessa vez pudesse
Realizar sonhos por uma cidade melhor porque
Achava contar com algumas parcerias importantes,
Mas essas parcerias não acontecem e
São sempre adiadas mês a mês, e
Ao contrário de minhas expectativas,
Apenas me seduzem com belas palavras protelatórias,
Sem nexo no contexto da vida.
COMPROMISSO pelo sonho e RESPEITO à realidade.
É isso que falta ao mundo de nossa existência.
O povo...? Esse, como sempre,
É prisioneiro da ilusão que desaparece
E retorna a cada eleição.
Já disse Mestre Guimarães Rosa que
"Viver é muito perigoso".
Mais que perigoso,
Viver é desiludir-se constantemente
Na ânsia de se acreditar que amanhã
Será melhor que hoje quando na verdade
A ilusão sempre mora na encruzilhada e
Arma ciladas contra quem sonha.
Essa é uma mensagem cifrada para dizer,
Criptograficamente,
O que estou sentindo nesse momento.
E esse é um recado de
Um Cidadão Apaixonado por essa Cidade,
Mas que se cansou de sonhar,
Pois sempre que parece tocar a mão no Infinito,
Aparece alguém para tirar-lhe a mão e
Recolocá-la na dimensão do Impossível.
Mas que se cansou de sonhar,
Pois sempre que parece tocar a mão no Infinito,
Aparece alguém para tirar-lhe a mão e
Recolocá-la na dimensão do Impossível.
VI – Nostalgia
Telúrica
(ou Um
Grito contra a Unanimidade Provinciana)
Antes viver
aqui em Nova Esperança era abrir a janela do céu
E dizer para
Deus que éramos porteiros do Paraíso.
Lembro-me na
infância quanto essa cidade
Era bucólica; e
deixava-me deslumbrado
Com sua
rusticidade dantesca e incomparável,
Com seus
carros-de-boi, cavaleiros, tropeiros...
Gente anônima e
homérica que vinha de diferentes lugares
Para se
confraternizarem e confabular
Em baixo de
gameleiras, jatobás e mangueiras.
Lembro-me dos
meus pais e avós tocando boiadas,
Indo para o
Velho Chico em viagens que demoravam meses;
Uns levavam
mangabas e outros produtos do extrativismo;
Outros
transportavam apenas sonhos como andarilhos
Cruzando
caminhos íngremes, com paisagens inesquecíveis.
O tempo, esse
monarca que dita os limites de nossa existência,
Parecia
eternizar-se suavemente deslizando
Cada ponteiro
do relógio na escala antilógica
De um mundo que
se esvaiu, mas que
Permanece nas
dobras da memória como
Reminiscências
indeléveis de uma vida saudosa
Daqueles
momentos singulares de prazeres indizíveis.
Mas esse tempo
morreu; e no reino do caos
Ressurgiu um
tempo de desânimo, de gente insensível
À beleza da
vida, à solidariedade com os pobres,
E sem sentido
de pertencimento à identidade com essa terra.
Essa “Gente
Grã-fina”, que ostenta poder materializado
Em máquinas, prédios,
lavouras...
É uma gente
desprovida de amor a essa terra;
É uma gente que
nos governa sem três virtudes
Indispensáveis
a quem exerce cargo na vida pública:
Humildade, Simplicidade e
Honradez.
Há trinta anos
vejo essa cidade tragada, tristemente,
Por uma onda de
marasmo onde a corrupção
E a
incompetência administrativa
Provocam
letargia, pobreza de espírito e inércia moral;
E deixa o povo
cada vez mais desiludido e dependente dos coronéis.
Essa “Gente
Grã-fina” que se diz melhor que nós,
Que diz ter trazido
o “Progresso” na marcha do nosso Regresso,
Governa esse
povo humilde com arrogância e prepotência,
E ainda se acha
no direito de manipular o silêncio dos inocentes;
Censurar a
liberdade de expressão
A quem tem
coragem de dizer a verdade;
Eles querem
apossar-se de nossos sonhos e esperanças
E dizer quem
merece ser feliz,
Quem deve viver,
investir e trabalhar no Município,
Que empresa ou
empresário terá alvará de funcionamento,
Qual o evento
será autorizado em praça pública,
Quem deve
sonhar e se sentir realizado,
Quem não deve
sonhar e ser condenado à eterna frustração...
Essa “Gente
Grã-fina”, que se enriqueceu aqui em nossas terras,
Mas tentam nos
convencer de que éramos “atrasados”,
Quer
monopolizar o Futuro de todos nós,
Quer que todos
aqui se sintam amordaçados
Pelo poder de
suas máquinas e de suas riquezas
Extraídas de
nosso solo e comercializadas bem longe.
Mas essa é a
hora de invocarmos o “espírito bandeirante”
De nossos
heroicos antepassados inscritos
Em páginas
épicas de nossa gloriosa História
Moldada no
sofrimento dos que se martirizaram
Vencendo
obstáculos intransponíveis
E sempre
fazendo de suas biografias
Um compromisso
inalienável com a honestidade
Na vida pública
dessa cidade hoje conspurcada
Pela nódoa
abjeta dos cleptomaníacos vaidosos
Que sentam na
cadeira desse “Teatro da Hipocrisia”
Como se fossem
os donos de nossa terra.
Mas essa terra
é de homens e mulheres altivos
Que um dia hão
de acordar, levantar sua voz,
Deixar de serem
cúmplices e omissos,
Para erguer bem
alto a Bandeira dos Pioneiros,
E com ela fixar
como paládio nessa pacata cidade
O Monumento à
Coragem de quem hoje levanta a voz,
Solitariamente,
contra essa unanimidade imposta pelos
Mercadores de Votos
e Manipuladores de Sonhos
Que nos sequestram
a Esperança e instalam o Caos.
Mas não nos
roubam o direito de sonhar,
Rebelar-se e
expressar nossa indignação cívica.
VII – Morte
e Ressurreição do Sonho
Viver muitas vezes é desapontar-se
Com pessoas com as quais convivemos,
Partilhamos sonhos e
Acreditamos sinceramente que
Com elas vamos fazer a
Travessia de vulcões,
Vamos cruzar ventos em
Situações tenebrosas...
Mas quando nos damos conta de que
Tudo isso é uma Grande Ilusão...
Aí a gente acorda do Sonho
Que virou Pesadelo,
Busca Novos Caminhos,
Redesenha o Mapa das Utopias,
Reencontra-se consigo mesmo,
Enterra as frustrações na
Lixeira do ex-parceiro e, de novo,
Reiniciamos o Itinerário Onírico
Que nos levará, outra vez,
Ao Barco dos Argonautas
Atrás do único Tesouro que
Será nosso eternamente:
O Sonho.
OBS.:
Esse poema em sete partes será publicado no livro A MUSA DEBUTANTE: APL AOS 15 ANOS,
coletânea de vários autores a ser lançada em dezembro de 2013 pela Academia Planaltinense de Letras, em
Brasília-DF, como homenagem ao aniversário dessa entidade cultural fundada em 5
de dezembro de 1998, da qual é integrante o escritor Xiko Mendes, um dos fundadores e o atual Vice-presidente.