TOTAL DE VEZES EM QUE ESSE BLOG JÁ FOI ACESSADO:

FORMOSO DE MINAS

FORMOSO DE MINAS
FORMOSO

Friday, May 03, 2013

XIKO MENDES (POESIA).


A Política do Esperancídio e a Redenção da Utopia (Um Guia para o Eleitor em 7 Fases)

Xiko Mendes

I – Sonhar ainda é possível

Dizem alguns que sou muito sonhador.
É verdade.
Sem sonho não se fecunda a impossibilidade.
Sonhar o que se julga impossível é reaproximar
De nós a face intangível de Deus sob o manto da
Esperança sufocada na garganta dos pessimistas,
Dos invejosos e dos que, em vez de lutar,
Cruzam os braços apostando na inércia do Mundo
Como resposta à própria acomodação,
Indulgência e indolência,
Que são os antídotos de quem não se comove
Com a miséria da vida e se torna prisioneiro de
Uma existência medíocre e previsível.
Dizem também que uma pessoa que
Acredita nas próprias palavras é muito perigosa.
Concordo plenamente.
Hitler acreditou tanto nas palavras dele
Que quase destruiu o Mundo.
Por outro lado, Cristo e Mahatma Gandhi
Também acreditaram tanto no que eles
Disseram à Humanidade que
Semeou no Mundo um extenso vocabulário de utopias.
O Mundo é assim: Uma “Lexicosfera” onde
Cada palavra incorpora o Universo à dimensão do Nada
Ou à dimensão do Infinito.
Sonhar é espantar-se com as diversas possibilidades
De se fazer acontecer e surpreender-se transformando
O mistério da (re)descoberta de si mesmo e do Mundo
Como alavancas do sucesso nas fronteiras movediças
Dessa encruzilhada centrífuga que é a Existência Humana
Entre a cômoda decisão de ficar e contentar-se com o já feito
Ou a incrível vontade de percorrer as linhas do desconhecido
Em busca de algo que ninguém consegue para mim:
O direito supremo e inalienável de trilhar, oniricamente,
Todas as curvas do Universo, visitando todas as Galáxias,
Hospedando-me em todas as Constelações,
Vivendo aventuras dantescas em buracos negros,
E fixando todos os meus sonhos como poeira cósmica
Levada pelo vento e que permaneça em órbita
 Para que os pessimistas se envergonhem e digam:
Sonhar ainda é possível!”.
E mais do que possível,
Sonhar é estar sempre no Labirinto
Buscando caminhos novos e atalhos
Para que o Mundo se renove, continuamente,
E o Homem continue sua marcha inelutável
Em busca de si mesmo
Como Metamorfose Caótica em Universo Oscilante
Aprendendo Lições de Cosmologia Onírica.

II – Véspera de eleição na cidade de Nova Esperança

Política em Nova Esperança é balcão de negócios.

E nessa cidade que tanto amo discute-se

Quem deve ser o próximo prefeito.

Partidos e caciques se reúnem na calada da noite;

Tramam acordos nos bastidores,

Conspiram ao pé do fogão

E riem do povo nos fundos de quintal.

Tudo já está decidido: já sabem

Quem serão os candidatos a vereador,

E quais serão indicados para prefeito e vice,

Mas fingem para o povo, indiferente e omisso,

Que somos uma Democracia.

Somos, sim, uma democracia;

Porém, somos a democracia plutocrática:

Aquela em que o status e o poder são determinados

Pelo uso e abuso do poder econômico na eleição;

Somos a “democracia” dos compradores de voto.

Somos a “democracia” dos enganadores do Povo.

Somos a “democracia” dos eleitores coniventes.

Estamos em véspera de escolha dos candidatos.

Cada um mente mais que o outro e promete mais que o outro.

Nesse “Vestibular da Hipocrisia” quem perde é sempre o eleitor.

É o hospital ou o posto de saúde que não funciona;

É a estrada cheia de buracos no meio do caminho;

É a escola sem merenda, sem reforma e sem projeto pedagógico;

É a obra inacabada, mas com licitação fraudada por

Um bando de ladrões dos cofres públicos;

É o vereador que não vota a favor do Povo, mas

Sempre a favor do governo municipal que lhe dá propina;

Enfim, entre uma eleição e outra tudo se mantém como antes.

E o povo aplaudindo, sonhando, renovando esperanças...

E frustrando-se constantemente.

Mas enquanto esse povo não acordar e

Perceber que ele é sempre o bobo da corte,

Essa cidade que tanto amo

Continuará anestesiada pela demagogia dos pilantras da Política.

O povo precisa conscientizar-se de que ele é o Sujeito da História,

É o ator principal no palco da Política.

Democracia sem emprego,

Democracia sem ética e liberdade de expressão,

Democracia sem participação popular,

Democracia sem justiça social,

Democracia sem educação e saúde dignas

Pode ser qualquer coisa,

Menos que seja o governo do Povo.

III – Reino da Egolatria

Poder e Vaidade andam juntos.
Tem gente que se envaidece
Tanto pelo Poder que
Se desencontra consigo mesmo(a).
Tem gente que se julga
Tão poderoso(a) que
Tropeça nos próprios
Passos errados que
Dá na Vida por excesso de autoconfiança
Em seu mandonismo absoluto.
Mas nada melhor que a Vida,
O pesadelo da experiência e
A imagem estilhaçada no espelho para que
Essa gente perceba que viver, antes de tudo,
É ser simples, humilde e humano.
O Poder passa.
A Vaidade passa.
O que fica são Amizades, a Saudade,
O Amor correspondido, a Vida partilhada
Em sonhos com quem sonha e quer
Um Mundo onde Vaidade e Poder
São espectros de um Mundo vazio
De sentimentos, de poesia e de Deus.

IV – A Arte de se enganar com Políticos

Se você quer se enganar com algum político,
Preste bem atenção: ainda que ele não te conheça,
Ele finge que é seu amigo há muito tempo;
Entra na sua casa e te dá um abraço traiçoeiro,
Mas como se fosse o seu melhor amigo.
Ele esbanja “humildade e abnegação”
Como se fosse o maior dos samaritanos;
Ele beija os seus filhos, a esposa ou o marido,
Como se fosse parte de sua família;
Ele invade o seu lar com a certeza de que
Você aceitará ser enganado.
Ele abre um falso sorriso largo no rosto
Para esconder e mascarar quanto é dissimulado;
Ele te mete a faca nas costas, mas com diplomacia,
Como se estivesse te convidando para
Um banquete com os deuses da Demagogia no Palco;
Ele se “com-promete” em realizar seus sonhos;
Ele promete destruir todas as suas angústias;
Ele se propõe a ser a Panaceia do Mundo;
Mas o que ele quer mesmo de você é o voto;
Mais nada. Você não é nada para ele.
Você é apenas o voto que tem.
Você, eleitor, é apenas um papel higiênico,
Um objeto descartável cuja utilidade se esgota
Após o resultado das eleições com o fechamento das urnas.
Eleito, empossado e entronizado na “Tribuna da Vaidade”,
Onde os medíocres e mequetrefes se julgam
Os mais importantes dos seres humanos,
Aí tudo muda: aquele político “bom samaritano”,
Mostra de fato quem verdadeiramente ele é:
Vaidoso, mentiroso, tirânico, farsante,
E sempre, sempre muito mascarado.
Ele foge da verdade como o diabo foge da cruz;
Eis a cartilha da arte de se enganar com políticos!
Portanto, não se deixe enganar por várias vezes,
Pois as estratégias são sempre as mesmas
Em todas as eleições quando a busca por votos
Transformam os políticos em porta-vozes da Esperança.
Eu já cansei de me decepcionar com políticos.
Agora decidi cruzar os braços, “me fingir de morto”
Para depois, muito tempo depois,
Dar a minha resposta em silêncio,
Sem que eles percebam,
Pois não existe coisa pior para um político
Do que ele ser ignorado pelo eleitor quando
Ele está em busca do voto e você vira
O centro das atenções e não vota nele.
Essa, então, é a hora de você ser o protagonista;
É a hora de você dar o troco e devolver a ele
Tudo o que fez de ruim ao longo do mandato.
Essa é a vingança cívica quando a
Sua Consciência de Cidadania
No Estado Democrático de Direito
Vira a única arma capaz de combater os Calhordas
Que se chafurdam no mar de lama do poder
E se envaidecem achando que nós, o Povo,
Somos a sarjeta do esgoto que eles constroem.
Só o voto, e somente com o seu voto (branco, nulo...),
Poderemos transformar o Mundo
E colocar na Lixeira da História
Essa gente sórdida, hipócrita, arrogante e prepotente,
Que se acha dona de nossas vontades e roubam
Nossos sonhos e esperanças.
E voltam na eleição seguinte com o mesmo discurso
De que são os Salvadores da Pátria.
Mas a Pátria somos nós: a Consciência Crítica
Que muda a Vida, nos devolve o Sonho e a Esperança.

V – Carta a um Parceiro (In)Confidente
                                                                         

Como andam as coisas nessa cidade? 
Para mim, parece tudo meio esquisito, 
Enigmático, indecifrável. 
Estou muito desanimado com essa cidade. 
Uma névoa de apreensão e perplexidade
Paira sobre o céu
E escondido na minha penumbra, 
Não consigo enxergar gotas de otimismo 
Nos horizontes da terra onde o Sol 
Iluminou o marco zero da minha existência.
Uma luz distante e fugidia afunila o fim do túnel, 
Espanta a primavera, 
Dá um susto na minha paciência e 
Torna-me um pessimista, 
Pois acreditei muito que alguns sonhos pudessem realizar, 
Mas tudo cada vez mais contribui para estreitar os caminhos, 
Encher de pedras os atalhos e dificultar uma saída. 
A gente sonha sozinho, 
Mas não realiza sonhos sozinhos. 
Acreditei que dessa vez pudesse
Realizar sonhos por uma cidade melhor porque
Achava contar com algumas parcerias importantes, 
Mas essas parcerias não acontecem e 
São sempre adiadas mês a mês, e
Ao contrário de minhas expectativas, 
Apenas me seduzem com belas palavras protelatórias, 
Sem nexo no contexto da vida. 
COMPROMISSO pelo sonho e RESPEITO à realidade. 
É isso que falta ao mundo de nossa existência. 
O povo...? Esse, como sempre, 
É prisioneiro da ilusão que desaparece 
E retorna a cada eleição.
Já disse Mestre Guimarães Rosa que 
"Viver é muito perigoso". 
Mais que perigoso, 
Viver é desiludir-se constantemente 
Na ânsia de se acreditar que amanhã 
Será melhor que hoje quando na verdade 
A ilusão sempre mora na encruzilhada e 
Arma ciladas contra quem sonha.
Essa é uma mensagem cifrada para dizer,
Criptograficamente, 
O que estou sentindo nesse momento.
E esse é um recado de
Um Cidadão Apaixonado por essa Cidade, 
Mas que se cansou de sonhar, 
Pois sempre que parece tocar a mão no Infinito, 
Aparece alguém para tirar-lhe a mão e
Recolocá-la na dimensão do Impossível.


VI – Nostalgia Telúrica
(ou Um Grito contra a Unanimidade Provinciana)

Antes viver aqui em Nova Esperança era abrir a janela do céu
E dizer para Deus que éramos porteiros do Paraíso.
Lembro-me na infância quanto essa cidade
Era bucólica; e deixava-me deslumbrado
Com sua rusticidade dantesca e incomparável,
Com seus carros-de-boi, cavaleiros, tropeiros...
Gente anônima e homérica que vinha de diferentes lugares
Para se confraternizarem e confabular
Em baixo de gameleiras, jatobás e mangueiras.
Lembro-me dos meus pais e avós tocando boiadas,
Indo para o Velho Chico em viagens que demoravam meses;
Uns levavam mangabas e outros produtos do extrativismo;
Outros transportavam apenas sonhos como andarilhos
Cruzando caminhos íngremes, com paisagens inesquecíveis.
O tempo, esse monarca que dita os limites de nossa existência,
Parecia eternizar-se suavemente deslizando
Cada ponteiro do relógio na escala antilógica
De um mundo que se esvaiu, mas que
Permanece nas dobras da memória como
Reminiscências indeléveis de uma vida saudosa
Daqueles momentos singulares de prazeres indizíveis.
Mas esse tempo morreu; e no reino do caos
Ressurgiu um tempo de desânimo, de gente insensível
À beleza da vida, à solidariedade com os pobres,
E sem sentido de pertencimento à identidade com essa terra.
Essa “Gente Grã-fina”, que ostenta poder materializado
Em máquinas, prédios, lavouras...
É uma gente desprovida de amor a essa terra;
É uma gente que nos governa sem três virtudes
Indispensáveis a quem exerce cargo na vida pública:
Humildade, Simplicidade e Honradez.
Há trinta anos vejo essa cidade tragada, tristemente,
Por uma onda de marasmo onde a corrupção
E a incompetência administrativa
Provocam letargia, pobreza de espírito e inércia moral;
E deixa o povo cada vez mais desiludido e dependente dos coronéis.
Essa “Gente Grã-fina” que se diz melhor que nós,
Que diz ter trazido o “Progresso” na marcha do nosso Regresso,
Governa esse povo humilde com arrogância e prepotência,
E ainda se acha no direito de manipular o silêncio dos inocentes;
Censurar a liberdade de expressão
A quem tem coragem de dizer a verdade;
Eles querem apossar-se de nossos sonhos e esperanças
E dizer quem merece ser feliz,
Quem deve viver, investir e trabalhar no Município,
Que empresa ou empresário terá alvará de funcionamento,
Qual o evento será autorizado em praça pública,
Quem deve sonhar e se sentir realizado,
Quem não deve sonhar e ser condenado à eterna frustração...
Essa “Gente Grã-fina”, que se enriqueceu aqui em nossas terras,
Mas tentam nos convencer de que éramos “atrasados”,
Quer monopolizar o Futuro de todos nós,
Quer que todos aqui se sintam amordaçados
Pelo poder de suas máquinas e de suas riquezas
Extraídas de nosso solo e comercializadas bem longe.
Mas essa é a hora de invocarmos o “espírito bandeirante”
De nossos heroicos antepassados inscritos
Em páginas épicas de nossa gloriosa História
Moldada no sofrimento dos que se martirizaram
Vencendo obstáculos intransponíveis
E sempre fazendo de suas biografias
Um compromisso inalienável com a honestidade
Na vida pública dessa cidade hoje conspurcada
Pela nódoa abjeta dos cleptomaníacos vaidosos
Que sentam na cadeira desse “Teatro da Hipocrisia”
Como se fossem os donos de nossa terra.
Mas essa terra é de homens e mulheres altivos
Que um dia hão de acordar, levantar sua voz,
Deixar de serem cúmplices e omissos,
Para erguer bem alto a Bandeira dos Pioneiros,
E com ela fixar como paládio nessa pacata cidade
O Monumento à Coragem de quem hoje levanta a voz,
Solitariamente, contra essa unanimidade imposta pelos
Mercadores de Votos e Manipuladores de Sonhos
Que nos sequestram a Esperança e instalam o Caos.
Mas não nos roubam o direito de sonhar,
Rebelar-se e expressar nossa indignação cívica.

VII – Morte e Ressurreição do Sonho

Viver muitas vezes é desapontar-se
Com pessoas com as quais convivemos,
Partilhamos sonhos e
Acreditamos sinceramente que
Com elas vamos fazer a
Travessia de vulcões,
Vamos cruzar ventos em
Situações tenebrosas...
Mas quando nos damos conta de que
Tudo isso é uma Grande Ilusão...
Aí a gente acorda do Sonho
Que virou Pesadelo,
Busca Novos Caminhos,
Redesenha o Mapa das Utopias,
Reencontra-se consigo mesmo,
Enterra as frustrações na
Lixeira do ex-parceiro e, de novo,
Reiniciamos o Itinerário Onírico
Que nos levará, outra vez,
Ao Barco dos Argonautas
Atrás do único Tesouro que
Será nosso eternamente:
O Sonho.


OBS.: Esse poema em sete partes será publicado no livro A MUSA DEBUTANTE: APL AOS 15 ANOS, coletânea de vários autores a ser lançada em dezembro de 2013 pela Academia Planaltinense de Letras, em Brasília-DF, como homenagem ao aniversário dessa entidade cultural fundada em 5 de dezembro de 1998, da qual é integrante o escritor Xiko Mendes, um dos fundadores e o atual Vice-presidente.